domingo, 26 de outubro de 2008

Última Página


Dia corrido... Fiquei com a sensação de ter acordado no meio de um sonho e logo voltei a dormir... Um dia assim que mal começou e já terminou...
Lembrei-me desse poema, que por sinal gosto muito!







Mais uma vez o tempo me assusta.





Passa afobado pelo meu dia,






atropela minha hora,despreza minha agenda.







Corre prepotente a disputar lugar com a ventania.







O tempo envelhece e não se emenda.







Deveria haver algum decreto que obrigasse o tempo a desacelerar







e a respeitar meu projeto.







Só assim eu daria conta







dos livros que vão se empilhando,







das melodias que estão me aguardando,







das saudades que venho sentindo,







das verdades que eu ando mentindo,







das promessas que venho esquecendo,







dos impulsos que sigo contendo,







dos prazeres que chegam, partindo,







dos receios que partem, voltando.







Agora que redijo a página final,







percebo o tanto de caminho percorrido







nesse ano que vai se retirando.







Apesar do tempo e sua pressa desleal,







agradeço a Deus por ter vivido,







amanhecer, e continuar teimando!!!















Última Página(Flora Figueiredo)

sábado, 25 de outubro de 2008

Onde leva o caminho?


Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu. Existem, por certo, atalhos sem número e pontes, e semi-deuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a própria pessoa. Tu te hipotecarias e te perderias. Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar. Onde leva? Não pergunte, segue-o.



Nietzsche






















quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Como se fosse a primavera




De que calada maneira



Você chega assim sorrindo



Como se fosse a primavera



Eu morrendo



E de que modo sutil



Me derramou na camisa



Todas as flores de abril



Quem lhe disse que eu era



Riso sempre e nunca pranto



Como se fosse a primavera



Não sou tanto



No entanto, que espiritual



Você me dar uma rosa



De seu rosal principal



De que calada maneira



Você chega assim sorrindo



Como se fosse a primavera



Eu morrendo



Eu morrendo




CHICO BUARQUE (Sempre!!!)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Canto para a minha morte!!!



Eu sei que determinada rua que eu já passei

Não tornará a ouvir o som dos meus passos.

Tem uma revista que eu guardo há muitos anos

E que nunca mais eu vou abrir.

Cada vez que eu me despeço de uma pessoa

Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez

A morte, surda, caminha ao meu lado

E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?

Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?

Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?

Na música que eu deixei para compor amanhã?

Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?

Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,

E que está em algum lugar me esperando

Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,

Pois em qualquer lugar esperas só por mim

E no teu beijo provar o gosto estranho

Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar

Vem, mas demore a chegar.

Eu te detesto e amo morte, morte, morte

Que talvez seja o segredo desta vida

Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?

Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.

Existem tantas...

Um acidente de carro.

O coração que se recusa abater no próximo minuto,

A anestesia mal aplicada,

A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida

O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,

Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio...

Oh morte, tu que és tão forte,

Que matas o gato, o rato e o homem.

Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar

Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva

E que a erva alimente outro homem como eu

Porque eu continuarei neste homem,

Nos meus filhos, na palavra rude

Que eu disse para alguém que não gostava

E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite...





Raul Seixas

sábado, 18 de outubro de 2008

Ausência...

Por muito tempo achei que a ausência é falta.


E lastimava, ignorante, a falta.


Hoje não a lastimo.


Não há falta na ausência.


A ausência é um estar em mim.


E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,


que rio e danço e invento exclamações alegres,


porque a ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.



Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Encurralada!


Vivendo em tempo fechado



Correndo atrás de abrigo



Exposto a tanto ataque



Você ta perdido



Nem parece o mesmo



Tá ficando pirado



Onde você encosta dá curto



Você passa, o mundo desaba



E pra te danar



Nada mais dá certo



E pra piorar



Os falsos amigos chegam



E pra te arrasar



Quem te governa não presta



Declare guerra aos que fingem te amar



A vida anda ruim na aldeia



Chega de passar a mão na cabeça



De quem te sacaneia




.....




E pra se ajudar



Você faz promessas



E pra piorar



Até o papa te esquece



E pra te arrasar



Nem o inferno te aceita



(Barão)

Minha cara de hoje!