
Quando esqueço a hora de dormir
E de repente chega o amanhecer
Sinto a culpa que eu não sei de que
Pergunto o que que eu fiz?
Meu coração não diz e eu...
Eu sinto medo!
Se eu vejo um papel qualquer no chão
Tremo, corro e apanho pra esconder
Com medo de ter sido uma anotação que eu fiz
Que não se possa ler
E eu gosto de escrever, mas...
Mas eu sinto medo!
Tinha tanto medo de sair da cama à noite pro banheiro
Medo de saber que não estava ali sozinho porque sempre...
Sempre... sempre...
Eu estava sempre com Deus!
Minha mãe me disse há tempo atrás
Onde você for Deus vai atrás
Deus vê sempre tudo que cê faz
Mas eu não via Deus
Achava assombração, mas...
Mas eu tinha medo!
Eu tinha medo!
Vacilava sempre a ficar nu lá no chuveiro, com vergonha
Com vergonha de saber que tinha alguém ali comigo
Vendo fazer tudo que se faz dentro dum banheiro
Para... Nóia
Dedico esta canção:
Paranóia!
Com amor e com medo
Raul Seixas (Paranóia)
"Quem com ferro fere, com ferro será ferido." Essas palavras lhe traziam à mente outras que a mãe costumava dizer: "Deus castiga".
Um dia caiu um raio na casa do velho Galvão, matando-o e ferindo-lhe a filha. Mamãe disse: "Deus castigou. Eles eram muito malvados". Além do castigo da professora, dos castigos dos pais da gente, havia então um castigo maior e mais tremendo - O castigo de Deus?
Eugênio temia esse Deus que em vão a mãe o queria fazer amar.
Quando a noite rezava o "Padre nosso que estais no céu..." - ele imaginava um ser de forma humana mas terrível, misterioso e implacável. Era invisível, mas estava em toda a parte, até nos nossos pensamentos. A ideia do pecado, então, começou a perturbar Eugênio. Estudava as lições e portava-se bem na aula porque temia os castigos da professora. Não fumava, não dizia nomes feios nem fazia bandalheiras porque tinha medo dos castigos da mãe. Fugia dos maus pensamentos e não fazia má-criações nem as escondidas, porque Deus estava em todos os lugares e enxergava tudo.
Érico Verissimo (Olhai os lírios dos campos)
Interessante essa comparação de dois poetas/escritores tão diferentes, mas com um pensamento tão parecido. As reflexões citadas são nada mais e nada menos do que uma mesma visão explicada de forma diferente, na qual se tenta exprimir ou exemplificar o medo que Deus nos causa. Um medo que não pode mais ser chamado de cultural, nem social é um medo lacônico, preciso, quase que inexplicável. Eu também O temo muito e quando penso nisto parece que escuto a voz de minha mãe dizer: "O temor do senhor é o principio da sabedoria".


